15 anos tornando Cristo conhecido
Um pouco da nossa história
De que maneira a Igreja surgiu?
Na eternidade, nos planos de Deus, no coração de Deus... Estas e outras respostas semelhantes, com poesia e teologia combinadas de maneira tão sublime, são valiosas, mas não atingem o alvo de um questionamento bem mais modesto. A pergunta deve ser outra... Vamos tentar novamente.
De que maneira uma igreja surge?
A esta pergunta, outra variedade de respostas: da reunião de cristãos, nas casas e nos templos; da atividade missionária; da ação de plantadores de igrejas, enfim, de tantas maneiras que talvez seja impossível imaginar por completo. E quem irá se atrever a colocar freios e limites na ação de Deus? Quem tem a pretensão de direcionar o sopro do vento? É, são muitas e tantas respostas. Certamente, a pergunta ainda não está adequada. Vamos tentar mais uma vez, então.
De que maneira a Igreja Batista Campus Manaus surgiu?
Agora a questão está mais específica, e estimula a busca de uma resposta mais precisa. Mas antes, vale uma palavra de explicação: por que contar essa história? Respondo brevemente: porque ela anima, incentiva, consola e inspira os que nela se envolveram, e os que, desde então, tem se juntado a ela. Portanto, registrar, compartilhar, tornar conhecida a nossa história será algo bom para os que participaram, e para os que estão chegando. É uma forma de trazer à memória os atos de Deus no meio do seu povo, de renovar as esperanças na provisão do alto, de dizer com júbilo que Deus fez – e faz – grandes coisas por nós, o que nos deixa alegres. E, sim, é um registro um tanto quanto modesto, inicial, até caseiro, como uma história dentre tantas outras. Mas é, para nós, a história da nossa igreja, ou seja, a nossa história!
Parece, então, que a pergunta exata é: De que maneira surgiu a Igreja Batista Campus Manaus? São muitos começos possíveis, mas, para esse momento, há um ponto marcante: em Parintins.
SEMENTES PLANTADAS: PARINTINS, ONDE COMEÇA A HISTÓRIA
A Igreja Batista Campus Manaus possuía, em sua composição e liderança inicial, basicamente membros da Primeira Igreja Batista de Parintins. Esta igreja, referência de comunidade cristã não só na cidade, mas em todo o Baixo Amazonas, desenvolve uma série de ministérios com o objetivo de atingir pessoas das mais variadas situações, condições e faixas etárias. E um desses ministérios é o de adolescentes.
Ao final de uma atividade com adolescentes – já ouvi essa história contado pelo pastor Tiago uma dezena de vezes –, foi feito o convite para os que se dispunham a atuar na obra de Deus, mesmo sem saber ao certo como fazê-lo. A tônica do convite era o espírito voluntário, não a habilidade específica. E muitos adolescentes, tomados pelo fervor de viver e servir, se dispuseram e responderam algo como “Senhor, eis-me aqui, para quê, não sei”. Talvez não fosse preciso saber mesmo: o coração disposto já era suficiente. E dessa disposição, talentos foram despertados, equipando a igreja em vários ministérios – liderança, pregação, música, administração, serviço, assistência. Desses frutos colhidos, uma parte estaria, anos depois, em Manaus, aplicando o que aprendeu e aprendendo coisas novas para a realização de outra tarefa.
O PRIMEIRO MARCO: DE PARINTINS PARA MANAUS, O PEQUENO COMEÇO
Havia há alguns anos um movimento de deslocamento de Parintins para Manaus. Alguns concludentes do Ensino Médio vinham a Manaus, no Amazonas, para realizar sua formação no Ensino Superior. Igor veio em 2006, Tiago em 2009. E pelo mesmo objeto, entre 2006 e 2010, muitos daqueles adolescentes de Parintins mudaram para Manaus, mas nem imaginavam que lhes cabia outra tarefa, se assim estivessem dispostos. Na saída de Parintins, a cada jovem que saía, abraços, choros, recomendações e cuidados, pois Manaus eram “um pouco maior” que a cidade deles.
Em Manaus, um misto de admiração e medo. Era preciso saber como andar pela cidade, quais as linhas de ônibus, pontos corretos de parada. Era preciso, também, lidar com a distância do lugar em que se viveu sempre, dos familiares e amigos desde a infância, da saudade e do desejo de retornar. Aqueles dilemas típicos de alguém que muda de cidade aos dezoito anos. E, o mais precioso, era preciso continuar na caminhada com Deus, buscando o direcionamento do Senhor, vivendo segundo o seu querer, o que significava, entre outras coisas, congregar. Assim aprenderam e assim ouviram dos seus líderes ao sair de Parintins: “Não deixe de se unir à uma igreja local”, “Ninguém vai muito longe sem a comunhão da igreja”, “Não fiquem soltos”, e coisas do gênero.
Enquanto, para alguns, esse processo de envolvimento com a igreja local foi bem sucedido, para outros, nem tanto. Não era uma questão de “falha” nas igrejas locais, ou de comportamento infantil, do tipo “Se não é a minha igreja da infância, nenhuma serve”. De modo algum. Antes, era um certo incômodo, uma intuição – se quiser chamar assim – a dizer “Não, meu lugar ainda não é esse”.
Assim, nesse movimento de congregar, uma alternativa foi a formação e participação em pequenos grupos – os PGs. Isso já é lá por volta de 2009-2010: os garotos de Parintins estão chegando em Manaus, alguns irmãos já se reuniam nesse formato. De certa forma, algumas vantagens já ficavam evidentes: um ambiente mais informal, um ajuntamento de pessoas com mais afinidades, um contato mais espontâneo e intimista. E esse suporte manteve a saúde espiritual de muitos nesses primeiros anos. Geralmente, o mais corriqueiro era a reunião do PG no sábado e a presença na igreja local no domingo.
SEGUNDO MARCO: O PEQUENO GRUPO CRESCE: VAMOS CELEBRAR!
Em 2012, a residência que abrigava as reuniões do PG ficou impossibilitada de continuar a fazê-lo. Nesse momento, algumas situações confluíam: primeiro, a inadequação de alguns nas igrejas locais; segundo, a afinidade com o modelo de pequenos grupos; terceiro, a falta do espaço regular de reuniões; quarto, o desejo da PIB de Parintins de iniciar um trabalho evangelístico em Manaus. Nesse meio tempo, algumas coisas haviam acontecido: a reunião do PG em outro local; depois, a divisão em dois pequenos grupos, para expandir a atividade e, claro, dar opção de proximidade para as pessoas que participavam dos encontros. Todas as ações vinham antecedidas de oração pela vontade de Deus e pela orientação presente e segura do pastor Elmer.
Se a formação de dois PGs foi valiosa por um lado, por outro abriu a lacuna entre os dois grupos, que não mais se encontravam. Dessa carência, surgiu a solução: promover uma reunião regular, mensal – sonho –, quando os dois grupos pudessem adorar juntos. Esse movimento foi chamado de “Celebração”. As reuniões ocorriam em espaços alugados, e mobilizavam voluntários em várias frentes: os que dispunham de recursos, ofertavam para as despesas de aluguel e outros gastos; os que tinham carro, ficavam à disposição para transportar pessoas e objetos; os que dispunham de braço forte, faziam a limpeza do local, desarrumavam e arrumavam o espaço antes e depois da celebração. Acredite se quiser, houve quem tentasse transportar a tela de projeção no ônibus! Nenhum trabalho era difícil demais e todos atuavam com alegria e bom ânimo. De certa forma, era a experiência da adoração no deserto: o tabernáculo era montado e desmontado. As reuniões nem sempre ocorriam no mesmo lugar, o que acabou gerando um slogan usado nas redes sociais com muito bom humor: “Somos o PG – Manaus, nos encontre se você puder”.
Assim foi a caminhada nos anos seguintes. Mas, apesar da disposição e ânimo, a inconstância e algumas experiências negativas com os espaços contratados foram provocando o questionamento sobre a maneira como as coisas estavam sendo feitas. Um certo sentimento misto de frustração e esforço inútil levou a equipe de Manaus e a liderança de Parintins a um ponto crucial, um divisor de águas. De coração aberto, foi colocado tudo o que amargurava e desanimava o trabalho em Manaus. Em resposta, o pastor Elmer colocou a definição do dilema nos seguintes termos: “Ou nós paramos aqui, e sem problema, tendo a clareza de que buscamos a vontade de Deus e fizemos o possível, e não há nenhum julgamento a respeito disso; ou nós damos um passo a mais, e vamos alugar um local regular, fixo, para as reuniões. É isso que precisa ser decidido.”
O que foi decidido? Se tivesse sido a primeira alternativa, eu terminava de escrever aqui...
TERCEIRO MARCO: A IGREJA DO HOTEL, QUE CHIC!
Um passo a mais. E que passo! Quando olhamos para trás conseguimos ver que foi um passo muito maior que a nossa perna. Obrigado, Deus, pois era tua perna avançando, no passo certo e necessário.
Resolvendo continuar, duas coisas imperiosas precisavam de definição. A segunda era o local fixo. A primeira? Quem se reunia nesse local.
A essa altura, estava claro que aquele grupo, unido pela experiência do novo nascimento, abraçando a verdade essencial da fé cristã, sujeito a uma liderança local – em Manaus e em Parintins – trabalhando em prol do evangelho do Reino e vivendo para a glória do Senhor do Reino era, segundo a designação do Novo Testamento, uma igreja. Mas como seria chamada? Na discussão sobre a designação da igreja, uma amada – Nildete, porque cito nomes mesmo – já foi traçando a fronteira: “tem que ter ‘Batista’ no nome, essa é a nossa origem, a nossa identidade”. Foi aceito. E, como já deve ser sabido, o antes “PG Manaus” tornou-se, daí em diante, “Igreja Batista Campus Manaus”, ligada, como ministério, à PIB de Parintins, e liderada pelo pastor Tiago Lincoln Brelaz, um dos jovens que veio para Manaus em 2009 e, desde o momento em que as reuniões do PG começaram, tornou-se o líder reconhecido e respeitado como tal por todo os congregados, seja no PG, seja na igreja. Sobre isso, sempre falo que, a quem olhasse atentamente, logo via naquele moço o coração de pastor.
No tocante ao local, a liderança pesava a responsabilidade. “Um local fixo!”; “Um gasto permanente...”; “Como vai ser?”; “Vamos conseguir?”. Ansiedade define. Temores naturais que, naturalmente, ficaram abaixo da fé e da disposição para mais esse passo e para realizar a boa obra.
A primeira fase desse novo momento foi a do aluguel de espaços em hotel. Deve ter acontecido entre 2014 e 2019. Foram buscados alguns hotéis próximos a um dos grandes shoppings de Manaus, para facilitar localização e acesso – crucial para o grupo que andava majoritariamente de transporte coletivo, quando vivíamos em tempos a. U. – antes do Uber. Apesar do interesse de manter um local constante, nem sempre isso foi possível. Pelo contrário, não só foi preciso mudar de um hotel para outro como, em casos de triste lembrança, ocorria a surpresa de o espaço alugado ser cedido a outros, sem explicação convincente. Além disso, continuava a ocorrer a montagem e desmontagem dos equipamentos para realizar os cultos. Ainda era o tabernáculo no deserto. Enfim, ficou claro que o projeto do local fixo não se daria com esses espaços. Nova busca precisava ser feita.
QUARTO MARCO: NOSSO LAR, ENFIM.
Lídia ficava, de vez em quando, consultado os espaços para aluguel em Manaus, tentando equacionar uma boa localidade com um preço possível. E eis que, um belo dia, sua atenção é chamada para um imóvel na rua Belo Horizonte. Fez-se o contato com a pessoal responsável e marcou-se a data para uma visita.
O corretor iria levar o casal Lídia e Igor para um local previsto para locação. Porém, ao dar-se o encontro, foi dada a informação de que o local pretendido não poderia ser visitado. Frustração define: pelas especificações, seria o local ideal, além de concretizar o desejo de ser espaço definitivo, o fim das peregrinações por residências, salas de escola, salões de festas e salas de hotel, o fim do nomadismo da igreja. Para compensar, o corretor diz: “Mas há outra sala disponível, é aqui próximo, e com características parecidas com essas que vocês iam ver. Não querem dar uma olhada?” Por que não? Do tudo para o nada. E agora do nada para alguma coisa, não parecia ser um prejuízo total. Além disso, a intenção era ver um local. Quem sabe o que Deus colocou mais à frente?
Chave abrindo os dois cadeados, porta de ferro aberta, logo à esquerda um lance de escada, um descanso, outro lance de escada à direita. No total, menos de vinte degraus. No final, a sala. “É aqui!”, foi a conclusão imediata do casal. Em tudo que era pensado como local fixo de reunião da Igreja Batista Campus Manaus, a sala nos altos do prédio da Rua Belo Horizonte parecia ter sido modelada para esse momento.
Claro que o ambiente precisou ser preparado: limpeza – e, acredite, no dia da limpeza a água acabou no meio do trabalho –, depois ornamentação, montagem do som, aparelhagem, instrumentos, sistema de transmissão online. Assim, como está sendo dito, talvez alguém veja hoje a bendita sala e diga “Mas eu pensei em outra coisa, mais espetacular”. É possível porque, como diz um ditado popular, “A beleza está nos olhos de quem vê”. Nesse caso, parafraseado com “Só entende a bênção quem a recebe”. Somente quem viveu algo desses quase dez anos de busca pela vontade de Deus pode entender não o aluguel de uma sala, mas o que isso significou: o passo a mais no projeto de Deus para uma igreja, e a alegria de estar envolvido na obra de Deus.
Desde 2019 na sua atual casa, a Igreja Batista Campus Manaus tem experimentado um crescimento saudável e constante. Uma liturgia simples e versátil, um perfil relativamente jovem, o engajamento nas redes sociais com transmissão online dos cultos deram visibilidade suficiente para que alguns membros do corpo de Cristo vindos de outros estados encontrassem a igreja com facilidade. O fato de ser uma igreja conectada ao seu tempo para promover o evangelho de todos os tempos permite que a igreja evite a confusão entre forma e conteúdo, entre circunstancial e essencial, entre temporal e eterno. Como toda igreja saudável, ela quer dispor de todos os recursos possíveis para chegar a todos os locais possíveis com a mensagem do “impossível aos homens, possível a Deus”. Ainda descobrindo como é ser igreja, teve que enfrentar, como as demais, os desafios que 2020 trouxe para todas as igrejas: a pandemia da Covid-19.
2020 foi um ano de muito aprendizado, em oração, ação e compaixão. Nossa igreja, na impossibilidade das reuniões presenciais, disponibilizou o espaço do prédio para alojar suprimentos enviados ao interior e para comunidades carentes; ajudou os necessitados com cestas básicas e outros itens importantes para aliviar um pouco as carências tão intensas daquele período. A comunhão do corpo, durante o isolamento, foi obtida com os PGs online, em que funcionaram nove grupos com média de sete participantes por grupo. Os cultos, também online, eram realizados em parceria com a PIB de Parintins. O retorno para as atividades presenciais, já em fins de 2020, deu novo ânimo à igreja, que contou com uma novidade: novo local de reunião no mesmo endereço. Não entendeu? É porque conseguimos fechar um acordo para o aluguel não só de uma sala do prédio, mas do prédio inteiro! Bênção providencial, pois as novas regras para reunião coletiva exigiam um distanciamento que seria impossível na sala original nos altos do prédio. A possibilidade de alugar o prédio inteiro já vinha de tratativas anteriores, e o retorno para as reuniões presenciais confirmou o projeto. Pudemos manter nossos cultos até o final desse ano, inclusive organizando “na cara e na coragem” uma cantata de Natal, executada com muita alegre e singeleza de coração, fechando um ano difícil para podermos iniciar outro, de maneira mais difícil ainda...
O novo ano trouxe o recrudescimento da pandemia, com Manaus sendo uma das cidades mais afetadas. Novas medidas de isolamento foram decretadas pelo governo, e mais uma vez as aglomerações foram proibidas. O prédio onde a igreja se reúne ficou fechado, como devia ser. Quanto a isso, decisão acertada e nenhum arrependimento. Os cultos voltaram à modalidade online: cada parte era gravada isoladamente, para posterior junção em uma programação coerente e coesa. Enquanto isso, ficávamos em oração e espera, tomando os cuidados necessários para sermos parte da solução.
Foram anos intensos, mas que já ficaram na história, graças a Deus.
De lá para cá, continuamos mantendo a essência da nossa fé, apostando na simplicidade litúrgica, aliada a um púlpito comprometido com Deus e sua Palavra, e um ambiente que incentive adoração, comunhão e serviço. A busca pelo padrão de Cristo (Efésios 4.13) vem nos motivando a amadurecer no Evangelho, e não somente envelhecer com o tempo.
Olhando para aquele pequeno começo em 2009, quinze anos depois, podemos agradecer a Deus: estamos crescendo, de maneira cuidadosa e saudável. Dos “garotos de Parintins”, somos hoje uma comunidade com pessoas de várias partes de Manaus, de alguns outros municípios do Amazonas, e até de alguns estados do Brasil. Nossa membresia é compostas por uma faixa etária que vai de recém-nascidos a octogenários. Não temos apostado em megaeventos ou coisas do tipo, mas estamos procurando fazer o simples – ser discípulos de Jesus, e fazer discípulos de Jesus. Acreditamos que a primeira grande alegria da vida é conhecer Jesus, e a segunda é tornar Jesus conhecido.
Não é sabido o que nos espera o dia de amanhã, e nem precisamos saber. Vivemos o presente confiando na proteção e provisão, mais ainda na sabedoria e soberania de Deus. “Orando e remando”, amando e servindo, crendo e crescendo, lutamos para ser a igreja que o Senhor da Igreja deseja. E temos confiança de que o Senhor da obra não irá nos desamparar. Pelo contrário! Afinal, o Deus que fez de um punhado de universitários uma igreja pode mais, muito mais de tudo aquilo que pedimos e pensamos, conforme o seu poder que opera em nós.
Charles Negreiros